terça-feira, 18 de dezembro de 2007

SOBRE A QUESTÃO DA POESIA


Quem nunca ouviu falar do ‘clássico’ poema da pedra de Carlos Drummond de Andrade?

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”


Eu encontrei, em um fórum aqui na net, uma história no mínimo curiosa a respeito deste poema. Com algumas mudanças que fiz, a história é a que segue abaixo:

“Tinha um programa que dava resposta de vestibulares. Em um vestibular, caiu esse poema e uma das questões era: ‘Qual o real significado da pedra no poema?’. A maioria dos professores de literatura concordou: ‘A resposta certa é a letra c: a pedra no caminho representa uma dificuldade na vida’. Um dos professores, então, deu a sugestão de ligar para o próprio Drummond e perguntar.
A conversa teria sido mais ou menos assim:

- Alô, grande Carlos Drummond de Andrade, estamos aqui em rede nacional, como vai?
- Vou bem, o prazer é todo meu!
- Então, estamos aqui resolvendo questões de vestibular e entre elas caiu o seu poema da pedra no caminho. Qual o real significado da pedra?
- Ué, a pedra é uma pedra comum que estava no meu caminho.
- Mas é só isso?
- Sim, é uma pedra.

(Todo mundo com cara de idiota)

- Mas a pedra não significa uma dificuldade na vida, algo atrapalhando o seu caminho?
- Não. Eu estava andando por Copacabana, vi uma pedra no meu caminho e decidi escrever um poema sobre ela.

(Todo mundo assim: *_*)

- Tudo bem, obrigado.
- De nada.
- Tchau, até mais.”

...

Para começar, não tenho certeza quanto à veracidade desta história. Na verdade, isso não importa! Esta história serve apenas de ‘ilustração’ para o meu texto. Bom, sigamos em frente...
Para mim,
o verdadeiro poeta é o leitor. Com imaginação e/ou senso de abstração, ele que dá o caráter poético à poesia.
O poeta apenas escreve um monte de versos em que a subjetividade desaba sobre ela mesma. Já o leitor, por sua vez, transforma o egocentrismo do autor em POESIA.
O interessante é que, certas vezes, os próprios autores se perdem em si mesmos (isso é que é subjetividade!). O mundo dos pensamentos incompreendidos está cheio de escritores procurando um sentido para as suas próprias palavras. Infelizmente, alguns desses não conseguem encontrar o significado e, de uma vez por todas, se perdem no obscuro mundo de suas próprias idéias.
Que espécie de poesia é essa em que os criadores se desencontram quando tentam se encontrar? Eu interpreto essa poesia como sendo um resumo dos momentos vividos por eles dentro deles mesmos. Chamo isso de “poesia para si”. (Até pode ser considerada um “desabafo”).
Um autor só é um poeta quando deixa de ser um poeta para ele mesmo, isto é, quando ele aprende a ser um leitor crítico dos seus próprios pensamentos e deixa de escrever palavras impenetráveis para os outros e, principalmente, para si.
Bom ...
Vou parar aqui! (cansei de escrever, cansei de ler, cansei de viver assim ...).



Fernando

5 comentários:

!oRDaN disse...

"- Mas a pedra não significa uma dificuldade na vida, algo atrapalhando o seu caminho?
- Não. Eu estava andando por Copacabana, vi uma pedra no meu caminho e decidi escrever um poema sobre ela. "

Meu, se essa história fosse verídica... O cara humilhou geral! iuaehUIAEhiuaEHIUaehuieA

O mais legal é que o povo acabou "errando" [?] a resposta no vestibular.

!oRDaN disse...

A propósito: Vá postar no okazi vá!


Eu esqueci de dizer: Eu concordo que o poeta é o leitor.
Isso é simples de entender, afinal, é como ler a bíblia: Cada vez o cara entende algo diferente da mesma coisa que você leu.


;D

Profa. Nara Lisboa disse...

Meu amigo Fernando é o caba mais culto que conheço!!!
Huuhauhauhhua
Mas ele falou e disse: o exagero de alguns poetas faz com que se percam!
E sim, o leitor é o maior poeta!
Fernando, vc é o cara!!
Huhauhuhauh
:P
Nara

Clarissa Fracesinha disse...

aew NANDO,adorei o blog.
Essa post sensacional
Como no próprio Surrealismo,havia um recorte de inúmeras palavras sem ordem alguma,colocados em saco onde eram misturadas,sendo retiradas uma a uma,sendo colocadas na ordem que saiam e era considarado uma obra de arte,o Leitor que tivesse a imaginçao de extrair desse texto todo embaralhado alguma idéia profunda ou apenas um nanda a ver,contudo,cada qual tem sua visão.
Assim caminha a humanidade,O autor antes de escritor terá sido leitor assíduo

uw3indwuei disse...

Sei não! Se me perguntassem sobre meus textos eu nunca diria. Concordar com a interpretação do leitor é o mesmo que matar as inúmeras outras possibilidades de entendimento. E sem contar que a cada tempo o texto ainda se reveste de outros significados em contextos diferentes.
Às vezes o poeta quer mesmo escrever pra si, que não lhe neguem o direito. Mas quem é astuto percebe que na verdade o que se escreve serve a todos, não há sentimento que não seja coletivo.
É quase impossível adivinhar, o poeta não é nada, apenas mediador de nós mesmos.